Rondinha - Família, espaço de reconhecimento e pertencimento
Data de publicação: 1 de junho de 2022
Hora: 08:57h
Créditos: Mari Angela da Silva Brancher
A sociedade pós-moderna abriu espaço para pensamentos plurais e complexos a respeito de muitos temas. Hoje não há um modelo familiar dominante, se pensa a família, não apenas como homem e mulher, pai e mãe. A família moderna é formada por pessoas conjugando suas vidas, ligadas por um afeto que as enlaça. O amor, a cooperação e o apoio mútuo entre os casais é o que torna possível a educação dos filhos tendo em vista que ambos os adultos têm além da vida familiar, suas vidas pessoais e profissionais que exigem tempo e dedicação.
Com essa nova configuração social na qual, tanto homens como mulheres, são provedores de suas casas, de suas famílias, fez-se necessário a divisão e o compartilhamento da tarefa de cuidar dos filhos e das tarefas domésticas. Deixou de existir “as tarefas de homens e as tarefas de mulheres” e passou a existir “as nossas tarefas” afinal a família, é casa de todos os que ali habitam.
Quando se pensa nas dinâmicas familiares, é necessário ter em mente as relações que perpassam estes grupos. Dentro de uma organização familiar as relações se caracterizam pela proximidade, comprometimento mútuo, parcerias sólidas onde cada sujeito que compõem este sistema recebe um fluxo constante de benefícios materiais e não materiais.
Essa mudança de paradigmas trouxe consigo alguns desafios, e talvez o maior seja o de gerenciar os conflitos que surgem entre os adultos nascidos nos século XX que educam uma geração nascida no século XXI. Nessa luta de gerações alguns conceitos importantes estão se perdendo, no afã de modernizar as relações entre pais e filhos ocorrendo o desequilíbrio dentro desta que é a célula base da sociedade - a família.
Observa-se cada vez mais famílias disfuncionais onde ou os pais praticam a autoridade extrema ou a permissividade sem limites, e o mais grave de tudo a desconexão. Pessoas vivendo sob o mesmo teto desconectados. Sem toque, sem olho no olho, sem afetos, alienados aos aparatos tecnológicos.
Diante desta nova realidade social surge, no Brasil, um movimento relativamente novo denominado parentalidade ou Educação Parental. Mas o que é parentalidade? É um conjunto de ações executadas pelos responsáveis por crianças e adolescentes, que tem por objetivo auxiliar no desenvolvimento integral destes sujeitos desde a mais tenra idade até a fase adulta, dando-lhes condições de crescerem e tornarem-se adultos capazes de viver e transformar a sociedade em um espaço onde as relações humanas sejam pautada pelo respeito ao próximo, a empatia e a compaixão.
A educação parental tem ganhado espaço na sociedade tendo em vista a necessidade de lidar com as singularidades estruturais da família, no que tange sua organização e sua essência como núcleo formador de humanos que viverão em sociedade. Ao fortalecer os responsáveis pela formação inicial dos sujeitos - pais, educadores, responsáveis pelo cuidar e educar crianças durante a infância e depois os adolescentes - acontece de forma direta e contínua uma ação de transformação social, afinal crianças e adolescentes que vivem em uma família funcional tornam-se adultos funcionais.
A educação parental estuda e busca compreender como os conceitos de família tem evoluído e quais consequências essas mudanças têm trazido para o grupo familiar. Com o melhor entendimento de como as relações entre essas pessoas que estão vivendo dentro de um sistema familiar instituído acontecem, há uma melhora na forma de educar, o que garante o crescimento integral saudável e a saúde mental dos membros do grupo familiar.
A quem diga que não se nasce pai ou mãe, torna-se pai ou mãe. Então se o homem e a mulher não nascem prontos para exercer papel tão importante é necessário buscar conhecimento e entender que esse transformar-se em pai ou mãe passa pelas ideações sociais, pelas heranças familiares, pelas memórias e pelos padrões familiares vividos que acabam sendo reproduzidos pelas gerações. As famílias precisam se atualizar para desfazer erros passados que estão inseridos nas formas de agir e pensar.
Para evoluir como sistema formador de sujeitos, o grupo familiar precisa garantir e manter-se como rede de apoio e de reciprocidade, que ofereça suporte biopsicossocial. Como bem nos diz Humberto Maturana:
“Eu lhes digo que educar é uma coisa muito simples: é configurar um espaço de convivência desejável, para o outro, de forma que eu e o outro possamos fluir no conviver de uma certa maneira particular. Eu lhes respondo que quando se consegue que o outro, a criança, o jovem, aceite o convite à convivência, educar não custa nenhum esforço para se viver.”