Diferentes vacinas serão necessárias para enfrentar covid
Cientistas envolvidos em estudos clínicos de quatro imunizantes avaliam a necessidade de várias vacinas para conter variantes
Data de publicação: 8 de março de 2021
Hora: 11:00h
Créditos: André Julião
Fotos: CHRISTOPHE PETIT TESSON/EFE/EPA
Fonte: Agência FAPESP
A corrida das vacinas não é uma disputa entre laboratórios, mas contra o tempo. As novas ondas de covid-19 e as variantes emergentes do SARS-CoV-2 são alguns dos obstáculos que só serão superados com o maior número possível de vacinas no mercado. Essa foi uma das conclusões de um debate virtual realizado no dia 1º de março com cientistas envolvidos em estudos clínicos de quatro imunizantes, dois deles já disponíveis no Brasil.
O evento integra o Ciclo ILP-FAPESP de Ciência e Inovação, organizado por meio de parceria entre a Fundação e o Instituto do Legislativo Paulista (ILP) da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). A íntegra do evento está disponível no YouTube.
Enquanto as outras três vacinas precisam de duas doses para ter a eficácia garantida, o imunizante da Janssen requer apenas uma aplicação. No estudo clínico de fase 3, preveniu novos casos sintomáticos em 85% dos voluntários de forma global, incluindo as variantes D614G e P.2. Os testes foram realizados no Brasil, África do Sul e Estados Unidos, onde a vacina foi aprovada para uso emergencial (em 27/02) pela Food and Drug Administration (FDA, agência de vigilância sanitária norte-americana).
“O estudo de fase 3 incluiu pouco mais de 44 mil participantes [no Brasil, África do Sul e Estados Unidos] e foi realizado no auge da pandemia. Essa vacina, no esquema de uma dose, oferece proteção substancial, especialmente contra a covid-19 grave, independentemente da variante viral. Foi bem tolerada, segura e tem esquema de armazenamento e transporte compatível com os canais de distribuição existentes”, explicou Beatriz Grinsztejn, pesquisadora do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI), da Fiocruz, no Rio de Janeiro, que coordena o estudo no Brasil.
Assim como a vacina da Janssen, a desenvolvida pela Universidade de Oxford em parceria com a AstraZeneca também utiliza a tecnologia de adenovírus, um vírus inócuo a humanos modificado de forma a carregar a sequência genética da proteína S (spike) do vírus SARS-CoV-2 e induzir uma reação a esse antígeno no organismo. Lily Yin Weckx, professora da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM-Unifesp) e uma das coordenadoras dos testes da vacina no Brasil, afirmou que uma dose forneceu 76% de proteção durante três meses. Os anticorpos passam a ser efetivos 22 dias após a primeira dose.
Para verificar o efeito da vacina sobre as novas variantes, a equipe faz o sequenciamento genético de amostras coletadas dos voluntários. As análises fazem parte de uma pesquisa de doutorado apoiada pela FAPESP.
“Temos muito pela frente, o estudo continua, mas já conseguimos a participação do Brasil em uma vacina segura e eficaz que pode ter um impacto no combate à pandemia de coronavírus”, disse a pesquisadora.
Novas vacinas
O imunizante desenvolvido pela Pfizer/BioNTech se vale da ação de moléculas de RNA mensageiro sintetizadas em laboratório para estimular uma resposta imunológica específica contra o SARS-CoV-2. O método inicialmente foi desenvolvido para o tratamento de câncer e ganhou impulso durante a pandemia de covid-19.
Segundo Edson Duarte Moreira Junior, pesquisador do Instituto Gonçalo Moniz da Fiocruz, em Salvador, e chefe do Centro de Pesquisa Clínica do Hospital Santo Antônio, novas vacinas devem surgir nos próximos anos com essa tecnologia. De especial interesse para o Brasil, estão duas da empresa Moderna, atualmente em testes clínicos para zika (fase 1 e 2 acelerada) e chikungunya (fase 1).
“É uma tecnologia segura porque tem compostos químicos sem proteínas virais e boa eficácia, já que desperta resposta imune ampla com o mínimo de imunidade antivetor, diferente das que utilizam vetores [vírus], e permite reforços frequentes. Além disso, é de desenvolvimento rápido e permite produção industrial em escala acelerada”, afirmou o pesquisador, que coordenou testes clínicos da vacina Pfizer/BioNTech no Brasil.
Primeira vacina contra o novo coronavírus utilizada no mundo, a Comirnaty teve estudos de fase 3 conduzidos em seis países e recrutou mais de 43 mil voluntários – um número superior a 8,6 mil (22%) tinha acima de 60 anos, 46% possuíam comorbidades e 14 mil (cerca de um terço) tinham obesidade. A eficácia foi de 95%.
Os pesquisadores lembraram, no entanto, que as opções disponíveis no mercado não garantem a erradicação do vírus, que muitos especialistas acreditam se tornará endêmico. Pensando nisso, o Instituto Butantan trabalha no desenvolvimento de três novos imunizantes com diferentes tecnologias.
“Uma das candidatas já venceu a fase pré-clínica e brevemente deve entrar na fase clínica acelerada 1 e 2. Também é baseada em vírus inativado, mas em plataforma diferente da CoronaVac, pois não envolve cultivo de células. [A nova vacina utiliza] ovos embrionados, muito assemelhado ao que acontece na vacina da gripe produzida pelo instituto”, afirmou Covas.
Até o dia do evento, segundo a Organização Mundial de Saúde, 186 possíveis novos imunizantes contra o novo coronavírus estavam em testes pré-clínicos, 74 em fase clínica (testes em humanos), sendo 15 na fase 3 e quatro na fase 4.