Dia Mundial do Câncer - Mudanças de hábitos e aprimoramento das políticas públicas são fundamentais para combater o câncer
Dia Mundial do Câncer - Mudanças de hábitos e aprimoramento das políticas públicas são fundamentais para combater o câncer
Data de publicação: 1 de fevereiro de 2018
Hora: 09:01h
O câncer poderá se tornar a principal causa de morte no RS em 2029. A região Norte do Estado registra um dos maiores índices de mortalidade por essa doença
O Dia Mundial do Câncer, que ocorre em 4 de fevereiro, é um momento importante para reflexão sobre a doença e para alertar sobre a necessidade urgente de mudanças de hábitos da população. Um estudo realizado pelo Observatório da Oncologia, divulgado em 2017, mostra que, caso não ocorram medidas efetivas na prevenção e controle da doença, o Rio Grande do Sul (RS) será um dos estados que terá o câncer como principal causa de morte em 2029, ultrapassando as doenças cardiovasculares. A região Norte do RS registra cerca de 2 mil mortes por ano em decorrência do câncer.
O câncer é a segunda causa de morte no mundo. Atualmente, 8,8 milhões de pessoas morrem por ano em decorrência dessa doença, conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, foram registradas cerca de 210 mil mortes por câncer em 2015 (DataSUS). No Rio Grande do Sul, essa doença matou mais de 18 mil gaúchos neste mesmo período, quase 2 mil mortes só na região Norte. Passo Fundo, Erechim e Carazinho são os municípios com o maior número de óbitos na região, 315, 140 e 105, respectivamente.
Entre 2013 e 2015, foram quase seis mil mortes (5,6 mil) por câncer na região Norte, sendo a terceira com mais registros de mortes por câncer no Estado, atrás da região Metropolitana e Sul do Estado. Para o oncologista clínico do Centro de Tratamento do Câncer (CTCAN), Dr. Alvaro Machado, esses dados são significativos. Enquanto que em todo o país as mortes por câncer representam 16,46% do total e 21,64% no território gaúcho, na região do Corede Produção (Norte do RS), em um terço (33,3%) dos municípios elas estão em primeiro lugar. “Temos uma taxa de mortes por câncer mais elevada que a média nacional. Alguns municípios têm mais que três vezes a média nacional. Sete municípios da região do Corede Produção têm a doença como principal causa de morte da população: Vila Maria, Santo Antônio do Palma, Pontão, Mato Castelhano, Gentil, Coxilha e Almirante Tamandaré do Sul”, revelou o oncologista do CTCAN, baseado em um levantamento recente feito pelo Jornal O Estado de São Paulo, com dados do DataSUS.
Incidência de câncer
Para os homens, os três tipos de cânceres mais incidentes no Brasil, depois do câncer de pele, são os de próstata (61.200 novos casos/ano), pulmão (17.330) e cólon e reto (16.660). Entre as mulheres, as maiores incidências, depois do câncer de pele, são de cânceres de mama (57.960), cólon e reto (17.620) e colo do útero (16.340).
Principal causa de morte em 2029
Uma pesquisa realizada pelo Observatório de Oncologia em 2017 aponta que em 2029 o câncer será a principal causa de morte no Rio Grande do Sul, ultrapassando as mortes em decorrência das doenças cardiovasculares, que hoje estão em primeiro lugar. Ainda segundo o estudo, isso acontecerá caso não ocorram medidas efetivas na prevenção e controle do câncer.
O oncologista do CTCAN observa que disseminar informação sobre a doença, estabelecer programas de educação na população e o rastreamento ativo são algumas medidas importantes para controlar a taxa de mortalidade. “Precisamos ampliar o acesso aos médicos e exames, qualificar a rede de atendimento primário para a suspeita e diagnóstico precoce, além de disponibilizar centros de tratamento bem equipados, treinados e experientes. Isto tudo é incompatível com o congelamento de investimentos no setor público, principalmente em tempos de crise, quando parte significativa da população que tinha planos de saúde migra para a rede do SUS”, destaca Machado.
A falta de cultura e acesso a exames periódicos ficou evidente em pesquisa da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) divulgada em 2017, a qual aponta que mais de 50% das mulheres não realizam o exame ginecológico anual e Papanicolau. Conforme Machado, a vacinação contra o HPV está com baixíssima aderência da população alvo, necessitando a busca ativa pela saúde pública e não uma oferta passiva de vacinação.
Obesidade, tabaco, álcool e defensivos agrícolas também são fatores preocupantes. “Ainda temos um elevado percentual de fumantes, apesar de grande redução nos últimos anos. O número de obesos cresce ano a ano e os hábitos alimentares e sedentarismo são os pilares do problema. O álcool está praticamente em todo momento do convício social e sua propaganda e venda tem mínima restrição. E o uso de defensivos agrícolas, que prefiro chamar de agrotóxicos, é um grande desafio. Somos os campeões mundiais percapta com mais de 7 litros por habitante por ano de agrotóxicos”, enfatiza o oncologista.
Mudanças de hábitos
Alimentação saudável, atividade física regular, sono adequado, restrição ao álcool e tabaco, vacinação contra HPV e cuidados de higiene: medidas simples, mas complexas na prática diária. “Quando entendemos que os principais fatores de risco são hábitos de vida, fica claro que podemos prevenir, evitar um número significativo de casos. O trabalho educativo de cada médico se limita ao contato direto com o paciente e familiares. Sem uma ampla, prolongada e intensa campanha governamental, acompanhada de políticas restritivas e de incentivo, demoraremos muitas décadas para evoluir neste campo”, salienta o oncologista.
Natália Fávero - AI CTCAN