O homem de uma mulher só - Kerley Carvalhedo
Data de publicação: 2 de abril de 2018
Coluna: Kerley Carvalhedo
Colunista: Kerley Carvalhedo
Sozinho é uma coisa, solitário é outra. Sozinho é com, solitário é sem.
Naquele dia o homem de uma mulher só, chegou em casa, tomou banho, se arrumou e saiu. O homem de uma mulher só era um sujeito bem vestido e perfumado, usava roupas e acessório caros. Todo mundo sabia que a mulher do dito cujo era quase uma santa, pois quase ninguém a via, ou raramente eram vistos juntos. Onze anos de casados e ele ainda estava à procura da pessoa certa. Este ano ele decidiu fazer diferente, quando perguntavam se ele era casado, a resposta era a mesma: “sou um homem de uma mulher só”. Durante o carnaval, ele beijou várias, até um travesti entrou na lista.
O marido saia todas as noites. A mulher compreendeu que ficar sozinha não era a melhor das alternativas. Ela contratou um encanador para fazer uns ajustes na pia da cozinha, que agendou para fazer o serviço à noite. O que o homem não sabia era que o encanador era especialista em fazer a coisa bem.
— Entre, por favor — disse a mulher só.
O encanador percebeu que ela era uma mulher casada, mas antes ele perguntasse alguma coisa ela explicou:
— Ele sai todas as noites, só chega às três da manhã. —
— Na cozinha ou no quarto? —
Despois de duas semanas, o marido observou que sua mulher parou de reclamar da solidão, estranhou, mas não lhe indagou nada. Ele continuou a rotina noturna: festas, badaladas, raves, mulheres e assemelhados. O homem de uma mulher só, se jugava o homem mais feliz do mundo. A última vez que perguntaram por que ele não andava com sua mulher, sua justificativa era que ela antissocial, não tinha amigos, não conversava com ninguém, não usava redes sociais, não gostava de sair de casa.
Desconfiado da mudança de hábitos da mulher, resolve ficar em casa, mas nada de anormal, além de passar a mão embaixo da camisola e perceber que ela não usava a calcinha. Mais tarde, deitado, chegou à seguinte conclusão: “minha mulher está me traído.” Logo pensou, “isso deve ser coisa da minha cabeça”. Para ele nada mudou, só não entendia porque a obra na cozinha nunca terminava, e de não chegar a tempo de conversar com o encanador.
Um dia o homem de uma mulher só, se deu conta de que a mulher não era tão só como ele pensava, pelo contrário, todas as noites ela vinha sendo muito bem acompanhada. Por quem, isso ele não sabia. “Hoje pego eles!” Chegando mais cedo da noitada, se deparou a cena: sua mulher transando com o encanador, mas a surpresa foi maior quando percebeu que o encanador era o garotão com quem ele saia toda semana, depois da meia noite.
Kerley Carvalhedo