De repente, pânico. Por Consuelo Pasqualotto Poloni
Data de publicação: 16 de abril de 2013
Coluna: Consuelo Pasqualotto
Colunista: Consuelo Pasqualotto
Uma das sensações mais difíceis de suportar é um ataque ou crise de pânico. Ele faz com a pessoa pense que sem motivo algum está ficando louca ou que está perdendo completamente o controle sobre si própria. De repente, Tudo ao redor adquire um ar estranhamente ameaçador. O coração começa a bater mais rápido, é a taquicardia. As mãos ficam geladas e trêmulas e ou amortecidas. O corpo irrompe em sudorese. Vêm, então, o medo e a sensação de morte iminente acompanhada de um sem número de pensamentos catastróficos.
Situações como essa são mais comuns do que se pensa e caracterizam uma crise de pânico. Segundo pesquisas, o transtorno do pânico (TP) afeta 3,5% da população ao longo da vida. É mais comum em mulheres e ocorre, em geral, entre os 25 e os 44 anos, podendo ocorrer em idades mais precoces. Além dos ataques súbitos de ansiedade, o TP é marcado pelo medo perene de uma nova crise, o que compromete a qualidade de vida de quem sofre desse mal.
Não raro, muitos indivíduos com transtorno do pânico desconhecem a causa de seus sintomas, o que os leva a procurar serviços de emergência dos hospitais no momento das crises, seja de dia, seja de madrugada, pois a sensação é de um mal estar tão grande que a pessoa não suporta e realmente acredita estar tendo algo muito perigoso. Muitas vezes recebem um ansiolítico em doses elevadas, voltam para casa sem explicações e sem recomendações, às vezes com uma escuta do tipo: “você deve estar muito estressado”. A incompreensão dos profissionais de saúde no atendimento pode contribuir para aumentar ainda mais o sofrimento desses pacientes, pois sem o caminho certo para seguir um tratamento adequado, o pânico pode desenvolver uma vida própria através de um ciclo de reforço.
Sem levar em conta a causa de seus sintomas, o ataque de pânico é um trauma para qualquer um que o experimente.
Na tabela abaixo está uma lista dos sintomas mais referidos:
$1· palpitações ou ritmo cardíaco acelerado;
$1· suor;
$1· tremores;
$1· sensações de falta de ar;
$1· sensações de asfixia;
$1· dor ou desconforto no peito;
$1· náusea ou mal estar abdominal;
$1· sentir-se tonto, desequilibrado, desmaiando;
$1· desrealização (sentimentos de irrealidade)
$1· despersonalização (sentir-se destacado de si mesmo);
$1· parestesias (sensações de dormência ou formigamento);
$1· calafrios ou ondas de frio e calor.
Pensamentos assustadores também acompanham estas sensações físicas. Veja alguns deles na tabela:
$1*Perder o controle
$1*desmaiar
$1*Confundir-se
$1*Ter um ataque cardíaco
$1*Morrer
$1*Ficar preso em algum lugar
$1*Causar uma cena embaraçosa
$1*Enlouquecer
$1*Não conseguir respirar, sufocar
$1*Não conseguir chegar em casa ou a qualquer outro “lugar seguro”
Estes “ataques” são comuns em vários problemas psicológicos, incluindo o transtorno do pânico, agorafobia e outras fobias. A tabela abaixo define resumidamente cada um desses transtornos.
$1· Transtorno do Pânico - o único problema psicológico cujo sintoma predominante é a aparição repetida de ataques de pânico.
$1· Agorafobia - há um medo intenso de novos ataques de pânico. Decorre daí uma tendência a evitar estar sozinho e/ou a estar em certos lugares públicos. A vida normal de agorafóbicos fica significativamente limitada por evitarem espaços fechados (lojas, restaurantes), viagens de carro, aviões, passar por pontes; espaços abertos (avenidas largas, campos); confinamento ou restrição de movimentos (cadeira de cabeleireiro ou do dentista, filas, multidões).
$1· Fobias Específicas - são medos irracionais de um objeto ou situação em particular, com grande tendência a evitar estes objetos ou situações. As fobias predominantes são medos de animais específicos ou insetos; de elementos naturais (tempestades, água); altura; espaços fechados. Um ataque de pânico pode ocorrer pelo confronto com o objeto ou situação temida.
$1· Fobia Social - medo excessivo e irracional de que algum tipo de ação pública do indivíduo será notada pelos outros. Exemplos: medo de falar em público, medo de se apresentar em um palco, medo de urinar em banheiros públicos, de assinar seu próprio nome, de ser observado enquanto come. O pânico pode ocorrer diante do confronto com a situação temida.
$1· Transtorno do Estresse Pós-Traumático - um estresse emocional específico que pode vir seguindo um evento psicologicamente traumático, como por exemplo um estupro ou assalto violento, seqüestros, um desastre natural, um acidente grave, uma cirurgia perigosa. O pânico pode ser observado como um dentre diversos sintomas.
$1· Transtorno Obsessivo-Compulsivo - caracterizado por pensamentos negativos e persistentes, involuntários, incontroláveis e/ou repetitivos, e por rituais improdutivos usados para reduzir a ansiedade. Fortes ataques de ansiedade podem ocorrer sempre que o indivíduo tentar impedir tais obsessões ou rituais.
$1· Transtorno da Ansiedade Generalizada - sintomas generalizados de ansiedade e preocupação, usualmente relacionados a possíveis ocorrências ameaçadoras da vida diária. Ocasionalmente a pessoa poderá sofrer ataques de ansiedade.
São inúmeros os momentos da vida em que é comum ficarmos ansiosos. A ansiedade pode ser entendida como um sentimento ou uma sensação a uma resposta do nosso corpo perante a um perigo, seja ele real ou imaginário. Coloca-nos em alerta para reagir, ou mesmo fugir de uma ameaça. Por esse motivo, é uma reação natural e esperada nos indivíduos.
Possui um importante papel em nossas vidas, uma vez que, por nos deixar alerta, nos impulsiona a agir, tomar atitudes frente a desafios ou dificuldades. Motiva-nos a produzir e a buscar aquilo que desejamos. Por isso, certo nível de ansiedade, é desejável e saudável!
Então o problema surge quando sem motivos reais desencadeamos todo um sistema fisiológico de sensações corporais e pensamentos catastróficos em situações, lugares e momentos inofensivos.
Devido a isso, em muitos casos, quando as pessoas não conseguem explicar seus sentimentos, elas começam a achar que o “erro” está nelas. Ou seja, “se nada exterior está me deixando ansioso, então deve haver algo de errado comigo mesmo”. Pessoas que apresentam Transtorno do Pânico costumam ter pensamentos do tipo “eu devo estar tendo um ataque cardíaco ou convulsão, posso estar morrendo, perdendo controle ou ficando louco”.
Então, após o primeiro ataque, algumas pessoas ficam apreensivas e hipervigilantes quanto a manifestações físicas da ansiedade. Temendo novos ataques, desenvolvem interpretações distorcidas e catastróficas em torno dessa possibilidade. Na medida em que a pessoa detecta a ansiedade e a entende como ameaçadora em si, a ansiedade aumenta.
Importante saber é que os transtornos da ansiedade tem tratamento o que significa que a pessoa pode voltar a ter qualidade de vida psíquica. A psicoterapia mais recomendada pela classe médica e psiquiátrica é a TCC – Psicoterapia Cognitivo Comportamental.
A Terapia Cognitivo Comportamental para Transtorno de Pânico, inclui:
- Psicoeducação para que o paciente conheça e detecte os fatores envolvidos no seu problema, detecção do início, situações em que ocorre e reações/pensamentos;
- Treino de habilidades e manejo de sintomas corporais;
- Treino respiratório que reduz a ansiedade;
- Avaliação e modificação da tendência persistente de interpretar de forma distorcida e catastrófica as sensações corporais;
- Exposição gradual in vivo.
A Terapia Cognitivo Comportamental atua no sentido de auxiliar o paciente com Transtorno do Pânico a identificar com clareza seus pensamentos e a entender a que emoções e comportamentos eles estão ligados. A partir dessa identificação, fazemos a avaliação de se os pensamentos são factuais ou se são distorcidos. Os pensamentos rápidos que se tem durante o ataque de pânico costumam ser em sua maioria irreais ou exagerados. Com a leitura sobre seus pensamentos e a aplicação das diversas outras técnicas, o paciente se torna mais seguro para enfrentar sua ansiedade, reduzindo-a novamente a um nível funcional.
Consuelo Pasqualotto Poloni/Psicóloga