Início de colheita nos Estados Unidos e atraso no plantio no Brasil provocam instabilidade na Bolsa de Chicago, ainda que cotações se mantenham em alta
Volatilidade tem sido uma característica do mercado da soja nesta segunda semana de agosto. As variações na Bolsa de Chicago, no entanto, decorrem mais de especulação decorrente de condições climáticas, principalmente no Brasil, onde a estiagem provoca atraso no início do plantio, do que de reais motivos para preocupação.
Às vésperas da abertura da colheita nos Estados Unidos, o momento é de transição no foco da atenção, com as previsões passando a considerar o que deve ocorrer na meteorologia sul-americana.
“Nesse momento, as duas variáveis de clima [de Estados Unidos e Brasil] estão pesando. Isso traz volatilidade ao mercado. É normal. Há especulação com um possível atraso de plantio no Brasil, o que está ocorrendo. Nos Estados Unidos, a colheita vai começar, houve uma piora no clima, mas nada que comprometa a produção. É especulação climática, basicamente”, avalia o consultor de Safras & Mercados Luiz Fernando Gutierrez Roque.
Números da safra
Números mais exatos do volume da safra da oleaginosa nos EUA deverão ser divulgados nesta quinta-feira, 12, pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos. A previsão oficial, até o momento, é de 125 milhões de toneladas, mas, como salienta o consultor, “pode ser que tenhamos uma surpresa, inclusive para cima”.
Isso porque a Pro Farmer, depois da realização do levantamento da Crop Tour, entre 19 e 23 de agosto, passou a trabalhar com um total de 129 milhões de toneladas.
Prorrogação na lavoura
No Brasil, o clima seco prorrogou a semeadura nas lavouras do Paraná e do Mato Grosso, com possibilidade, de acordo com Gutierrez Roque, de permanência da condição climática até a última semana do mês. O consultor ressalta, no entanto, que o atraso não representa, por si só, uma ameaça à produção.
“Pelo menos se o atraso for pequeno, alguns dias ou semanas. Isso não define produção. Se as chuvas chegarem no Brasil central, sudoeste e parte do sul, a partir de outubro, ainda tem possibilidade de plantar tudo que estamos estimando e, se o clima ajudar, colher uma safra cheia”, acrescenta Gutierrez Roque.
Em relação ao Rio Grande do Sul, onde o plantio ocorre, geralmente, a partir de meados de outubro, Roque considera “muito cedo” para prever alguma consequência para a lavoura de soja.
Por fim, o consultor alerta para a possibilidade de os produtores aproveitarem o “momento positivo” de alta nas cotações da oleaginosa, apesar da instabilidade na bolsa.
“Se o clima se ajeitar e for bom ou regular, a partir de outubro até janeiro, no Brasil como um todo, especialmente no Rio Grande do Sul, vamos colher uma safra cheia. Possivelmente recorde. Isso tende a pressionar os preços lá na frente”, adverte o consultor.