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Chuvas no RS: um rombo de R$ 25,5 bilhões ao agro gaúcho

Valor é estimado em estudo de professores UFRGS que avalia os impactos da tragédia climática sobre o solo e os nutrientes fundamentais à fertilidade da terra

Um estudo produzido por professores da Faculdade de Agronomia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) estima em, pelo menos, R$ 25,5 bilhões as perdas sofridas pela agropecuária gaúcha em decorrência das chuvas, inundações e enchentes ocorridas ao longo do mês de maio deste ano em mais de 400 municípios do Estado.

O rombo financeiro é mais do que o dobro (118%) do orçamento público de Porto Alegre para 2024. Em outra comparação, o estrago chega a 28,5% do valor bruto da produção agropecuária gaúcha para o ciclo 2023/2024, calculado em R$ 89,5 bilhões por instituições como Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), EmbrapaEmater/RS-Ascar e Instituto Rio Grandense do Arro (Irga). De acordo com os autores do estudo, o montante não considera as perdas em produtos como leite, aves, ovos, suínos, ovinos, madeiras, erva mate, além de outros voltados às áreas de zootecnia e de engenharia florestal.

Os R$ 25,5 bilhões resultam da soma de R$ 19,4 bilhões, correspondentes ao prejuízo com produtos agrícolas não colhidos, não pastejados ou com perda de qualidade, e de mais de R$ 6 bilhões relativos à devastação do solo e eliminação de nutrientes fundamentais à fertilidade.

A camada superficial, de até 20 centímetros de profundidade, de uma área de 106,8 mil hectares, teria sido levada pela enxurrada, indica o artigo “Maio vermelho: o impacto do evento climático extremo na agropecuária gaúcha”, concluído no início de junho.

Os autores, os professores Renato Levien, Michael Mazurana e Pedro Selbach, são vinculados ao Departamento de Solos da instituição de ensino e integram a Associação de Conservação de Solo e Água, entidade fundada há cerca de um ano, reunindo pesquisadores de instituições como Emater/RS-Ascar, Embrapa, universidades e produtores rurais.

Para o estudiosos, o mês da catástrofe climática é o “maio vermelho”, em referência ao “novembro vermelho” de 1978, quando a passagem do El Niño pelo Rio Grande do Sul resultou no que era, então, um “capítulo sem precedentes” em relação à perda de solo por erosão hídrica. Avaliação da época calculou em 33 milhões de dólares – R$ 178,5 milhões, considerando a cotação da moeda americana em R$ 5,41 – o custo do dano sofrido em todo o Rio Grande do Sul naquele mês de novembro.

O levantamento de Levien, Mazurana e Selbach aborda os efeitos das precipitações pluviométricas recordes em cada uma das sete mesorregiões gaúchas – Metropolitana, Nordeste, Noroeste, Sudoeste, Sudeste, Centro Ocidental e Centro Oriental.

“Em algumas mesorregiões, o volume precipitado foi quase a metade do volume esperado para o ano todo. Soma-se a isso o fato de que esses volumes ocorreram em um curto espaço de tempo, não tendo o solo qualquer condição de conseguir infiltrar e translocar toda essa água para seu interior, levando à sobra e ao escoamento superficial, potencializando a erosão hídrica dos solos cultivados ou não”, diz o texto.

As perdas de produtos foram maiores nas regiões Noroeste, com R$ 5 bilhões (26%), Metropolitana, R$ 3,3 bilhões (17%), e Sudeste, R$ 31, bilhões (16%). A cultura da soja, que tinha 25% da área plantada de 6,7 milhões de hectares a ser colhida, foi a mais atingida em todas as sete regiões. As perdas com a oleaginosa foram seguidas pelas das lavouras de arroz, cuja colheita havia atingido 84% no início do problema, e nas de milho, que estavam 15% por colher.

Até a tragédia climática, o Rio Grande do Sul vivia a expectativa de uma super safra de grãos, estimada pela Emater/RS-Ascar, em março deste ano, em 35 milhões de toneladas na safra 2023/2024. Vinte e dois milhões de toneladas eram esperados apenas na cultura da oleaginosa, que acabou fechando a colheita após o desastre ambiental em pouco mais de 19 milhões de toneladas, índice atingido graças à alta produtividade das lavouras (de cerca de 5 toneladas por hectares que conseguiram ser colhidas especialmente em municípios onde se concentra a maior produção.

Em relação ao solo, novamente Noroeste lidera o ranking do prejuízo, com 35,2% da área total atingida no Estado, à frente de Sudoeste (18,3%) e Centro Ocidental (14%).

Como foi realizado o estudo

Os esforços que resultaram na produção artigo “Maio vermelho: o impacto do evento climático extremo na agropecuária gaúcha”, dos professores Renato Levien, Michael Mazurana e Pedro Selbach, do Departamento de Solos da Faculdade de Agronomia da UFRGS, foram realizados com o objetivo de constituir uma base de dados sobre a extensão dos danos à agropecuária do Estado, provocados pelos fenômenos climáticos do mês passado.

A base de dados contempla as sete mesorregiões do Rio Grande do Sul, incluindo dados geopolíticos, volumes de precipitação pluviométrica, classes de solos predominantes, culturas agrícolas e suas respectivas áreas semeadas e colhidas, tipos de cobertura de solo predominante, estimativa de perda de solo e o valor dos produtos agropecuários e da terra.

“Especificamente se buscou estimar e dar um valor monetário à perda física dos produtos não colhidos ou colhidos com baixa qualidade e às perdas de solo e de nutrientes por erosão hídrica, para que esses valores pudessem ser comparados com a renda bruta prevista com a venda dos principais produtos produzidos em cada mesorregião”, diz o texto.

No cálculo da previsão das receitas foi considerada a produção de grãos de soja, milho, arroz, de folhas da cultura do fumo, produção de frutas e hortaliças e de ganho de peso vivo de bovinos de corte que se alimentam de forragens, seja de campos naturais, pastagens cultivadas, com ou sem complementação de silagem, especialmente de milho.

O primeiro passo foi levantar o número de hectares cultivados e a produtividade média de cada cultura nas diferentes mesorregiões. De posse da produção esperada, o volume foi multiplicado pelo respectivo valor atual de mercado, obtendo-se o valor bruto de renda estimado dos produtos.

Foi realizado um levantamento com técnicos de cooperativas, cerealistas, Emater/RS-Ascar e produtores rurais. A diferença foi considerada como sendo a perda física dos produtos. Calculou-se então, o percentual estimado de perda física dos produtos, seja por produtos não colhidos ou pastejados por motivo de inundação, arraste por enxurrada ou solo encharcado, bem como perda da sua qualidade e preço.

As quantidades de produtos perdidos e ou danificados severamente foram multiplicados pelo seu preço atual, resultando no valor de R$ 19,4 bilhões, equivalente a 22,8% do valor da produção bruta da agropecuária gaúcha, projetada para R$ 85 bilhões com os produtos considerados no estudo. Incluídos mais R$ 6 bilhões referentes a perda com solo e nutrientes.

Créditos:

Poti Silveira Campos

Fotos:

Ricardo Giusti

Fonte:

Correio do Povo

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